Cardeal Sergio da Rocha, Arcebispo de Salvador, discorre, em seu mais recente artigo, sobre uma temática de relevância crescente no âmbito da Igreja Católica: a sinodalidade. Este termo, oriundo do grego, significa “caminhar juntos”, trazendo consigo uma reflexão sobre comunhão e participação em prol da missão. No entanto, mesmo sendo uma expressão atrativa, sua efetiva aplicação exige considerações cuidadosas.
O conceito de sinodalidade ganhou notabilidade a partir do Concílio Vaticano II e se tornou um ponto central durante o pontificado do Papa Francisco. Em 17 de outubro de 2015, durante a celebração dos 50 anos da instituição do Sínodo dos Bispos, o Papa afirmou que a sinodalidade é o caminho esperado por Deus para a Igreja do terceiro milênio.
O que é Sínodo da Sinodalidade?
Segundo o Papa Francisco, “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”. A palavra sínodo é de origem grega e faz referência a comunhão, e a sinodalidade, por sua vez, é um modelo de Igreja que permita a todos caminharem juntos, ouvindo o Espírito e a Palavra, participando da missão da Igreja e da comunhão que o Senhor Jesus Cristo deseja para todos nós. Assim, a sinodalidade é uma maneira de testemunhar Cristo por meio da comunhão entre todos os membros da Igrej
O que é sinodalidade e qual sua importância?
Para uma compreensão embasada da sinodalidade, é necessário entender o termo interrelacionado – colegialidade. Esta é a ação dos bispos em conjunto com o Papa, e tem os Concílios Ecumênicos, o Sínodo dos Bispos e as Conferências Episcopais como suas principais expressões. Entretanto, a sinodalidade vai além da colegialidade, apresentando diferentes níveis e formas de manifestação na Igreja.
Como será a participação na fase diocesana?
Para o Sínodo de 2023, o Papa Francisco tem o objetivo de expandir o processo participativo. Para além de ouvir os Bispos ao redor do mundo, o Santo Padre manifesta o desejo de ouvir outros fiéis e, se possível, até mesmo os mais afastados e os descrentes. Este Sínodo acontecerá em três fases distintas: a da Igreja Diocesana, a das Conferências Episcopais e Continentes e, por fim, no âmbito universal da Igreja.
O início do processo conta com a consulta às Igrejas particulares ou dioceses, escutando o Clero, os Consagrados e os fiéis Leigos. Até o dia 20 de março de 2023, estas sínteses serão enviadas para a CNBB. Todos estão convidados a participar deste processo e exercitar os caminhos da sinodalidade.
Assim, com o tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”, este sínodo representa um marco na história da Igreja Católica, e demonstra a visão integrativa do Papa Francisco, que acredita na importância da coletividade e participação de todos os fiéis na construção da missão da igreja.
O exercício da sinodalidade pode se dar em três níveis. Primeiro, nas Igrejas particulares, com seus diversos organismos de comunhão. Em seguida, temos as Províncias Eclesiásticas e as Conferências Episcopais. E, por fim, o terceiro nível é o da Igreja universal, com a presença do Sínodo dos Bispos. Segundo o Papa Francisco, este Sínodo, por representar o episcopado católico, configura uma manifestação da colegialidade episcopal em uma Igreja sinodal.
A sinodalidade na prática
Entre as medidas adotadas pelo Papa para tornar a sinodalidade mais palpável, está a expansão da fase preparatória da Assembleia Sinodal, assim como o aumento da participação na sua execução. Ambos os processos valorizam o “sensus fidei” – a percepção dos fiéis sobre questões de fé.
Ainda assim, o Papa Francisco salienta um dos desafios dessa prática, ao dizer que a teoria do sínodo é fácil de expressar, mas sua aplicação é complexa. A sinodalidade, de acordo com seu argumento, não deve ser vista apenas como uma questão organizacional, mas como parte da própria natureza da Igreja. E por isso, é necessária uma compreensão embasada na eclesiologia, ciência que estuda a Igreja.
Com sua ênfase em comunhão, participação e diversidade de vocações e ministérios, a sinodalidade, defende o Cardeal, é um dos caminhos para a construção de uma Igreja inclusiva, na qual a autoridade é exercida como serviço, culminando na figura do Sucessor de Pedro, que se apresenta como o “servo dos servos de Deus”.