A possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos tem deixado investidores ao redor do mundo apreensivos. Nesta sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024, dados do mercado de trabalho mais fracos do que o esperado acenderam alarmes sobre uma possível desaceleração da economia norte-americana.
Os números divulgados pela manhã mostraram que os EUA criaram apenas 114 mil vagas no mês de julho, bem abaixo da expectativa de 175 mil. Além disso, a taxa de desemprego subiu para 4,3%, quando esperava-se que fosse mantida em 4,1%. Esses dados levantaram preocupações sobre os efeitos da atual taxa de juros mantida pelo Federal Reserve (Fed).
Impacto da Taxa de Juros na Economia: Estamos à Beira de uma Recessão?
Os números mais recentes do “payroll” colocam em destaque a Regra de Sahm: um aumento de 0,5 ponto percentual na média móvel de três meses da taxa de desemprego, em comparação à sua mínima nos últimos 12 meses, é um sinal de recessão. Em agosto de 2023, essa média estava em 3,8%, enquanto a taxa atual é de 4,3%. Isso coloca a maior economia do mundo em um estado crítico.
Os dados vêm logo após a decisão do Fed, na última quarta-feira, de manter a taxa de juros entre 5,25% e 5,50%. Embora a manutenção dos juros fosse esperada, o comunicado subsequente sugere que um ciclo de afrouxamento monetário pode estar próximo, possivelmente já em setembro.
Por Que os Investidores Estão Preocupados?
A frustração dos investidores é visível nos mercados globais. Grandes instituições financeiras, como JPMorgan e Citigroup, revisaram suas previsões e agora antecipam um corte de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Fed. Na ferramenta CME FedWatch, 67,5% dos investidores já estimam um corte de 0,5 ponto percentual, enquanto os demais esperam uma redução menor, de 0,25 ponto percentual.
Durante entrevista coletiva, Jerome Powell, presidente do Fed, indicou que uma redução nas taxas é uma possibilidade, mas destacou que um corte de 0,50 ponto percentual “não está em consideração” no momento. Essa cautela reflete o temor de um aumento da inflação, que em junho estava em 2,5%, um pouco acima da meta de 2% do Fed.
Quais São os Sinais de uma Recessão Imediata?
Além da criação de vagas, outros indicadores mostram uma desaceleração. Os pedidos de auxílio-desemprego aumentaram para 249 mil no mês passado, acima da expectativa de 236 mil. As vendas de novas moradias também caíram, atingindo seu nível mais baixo em sete meses – um reflexo dos altos custos das hipotecas e dos imóveis.
Esses dados secundários geralmente anunciam problemas. Segundo Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, “a recessão não aparece gradualmente no PIB; ela surge de repente”. Desde 1940, toda vez que houve uma inflexão na taxa de desemprego, houve uma recessão, com exemplos notáveis em 2008 e 2020.
A Recessão Está Realmente Próxima?
Não falta opinião divergente sobre essa narrativa de recessão. Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de macroeconomia na consultoria Tendências, considera que há um certo “exagero de mercado” e pede cautela. Para ela, o cenário ainda não mostra uma tendência clara de recessão e devemos aguardar mais dados antes de conclusões definitivas.
Autoridades do Fed também estão cautelosas. Jerome Powell minimizou a possibilidade de um “pouso forçado” – quando a tentativa de controlar a inflação leva à recessão. Ele argumenta que os dados atuais não apontam para um enfraquecimento drástico.
- O PIB dos EUA cresceu 2,8% no último trimestre, acima do esperado.
- O consumo permanece robusto, embora em ritmo mais lento.
- Os empregadores continuam contratando novos funcionários.
Michael Gapen, do Bank of America, reconheceu a desaceleração, mas não a vê como catastrófica. No entanto, ele adverte: “Se o Fed não cortar as taxas, corre o risco de criar a recessão que tanto tentou evitar”.