O Carnaval no Brasil é mais do que apenas uma festa extravagante; é uma manifestação cultural rica e diversificada, que muitas vezes reflete aspectos importantes da sociedade brasileira. Entre as diversas escolas de samba que desfilam nos sambódromos do Rio de Janeiro e de São Paulo, temas que abordam a realidade do campo têm sido cada vez mais comuns. Este ano, a Mancha Verde, uma das escolas de samba mais renomadas de São Paulo, decidiu homenagear a agricultura familiar em seu desfile.
Sob o enredo “Do nosso solo para o mundo: o campo que preserva, o campo que produz, o campo que alimenta”, a Mancha Verde busca retratar a importância da agricultura para o Brasil e para o mundo. A história começa com uma narrativa mitológica, onde Deus Olorum ordena à divindade Ocô que crie a agricultura, com as abelhas como mensageiras, simbolizando a polinização e o fim da miséria na Terra. A partir desse ponto, a escola percorre os ciclos de produção agrícola no Brasil, destacando culturas como a borracha, a cana-de-açúcar e o café.
O desfile da Mancha Verde não se limita apenas a uma representação superficial da agricultura; ele busca mergulhar na vida e na cultura do pequeno agricultor brasileiro. O carnavalesco da escola, André Machado, destaca a importância de retratar a simplicidade e a dedicação do homem do campo, que acorda cedo, trabalha com a terra e mantém suas tradições, como a música caipira e o uso do berrante.
Uma parceria com uma família de produtores de Patos de Minas (MG) enriquece ainda mais o enredo da Mancha Verde. Os carnavalescos visitaram o Complexo JK, uma estrutura instalada na propriedade mineira que trabalha com conceitos de sustentabilidade, agricultura regenerativa e economia circular. Essa visita proporcionou uma compreensão mais profunda dos desafios e das inovações presentes na agricultura familiar brasileira, reforçando a mensagem de respeito à terra e de busca por um futuro sustentável.
No desfile, a Mancha Verde destaca a importância da economia circular na agricultura, mostrando como diversas atividades agrícolas podem se integrar para reduzir o desperdício e promover a sustentabilidade. O carro alegórico com esculturas de porquinhos com chapéus de palha e a figura de São José, padroeiro dos agricultores, simboliza a esperança por uma colheita farta e a necessidade de semear esperança em um país reconhecido como celeiro do mundo.
Além de celebrar a agricultura brasileira, o desfile da Mancha Verde presta uma emocionante homenagem ao agrônomo Alysson Paolinelli, uma figura importante na agropecuária brasileira. Paolinelli, que faleceu no ano anterior, foi um defensor incansável da ciência e do desenvolvimento sustentável, tendo sido ministro da Agricultura e um dos responsáveis pela criação da Embrapa. Sua contribuição para o setor agrícola brasileiro é lembrada com gratidão e reverência pela Mancha Verde e por todos aqueles que reconhecem sua importância.