A Elisa Agro, uma das maiores empresas de agricultura irrigada do Brasil, recentemente apresentou um pedido de recuperação judicial, buscando reestruturar suas dívidas que totalizam R$ 680 milhões. Concentrando suas operações no Vale do Araguaia, em Goiás, a empresa enfrenta desafios financeiros decorrentes de diversos fatores, como a pandemia de COVID-19, a guerra na Ucrânia, a elevação dos juros, problemas climáticos e a desvalorização das commodities agrícolas.
As dívidas da Elisa Agro incluem um montante significativo de R$ 327 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), emitidos para financiar sua expansão. A decisão de recuperação judicial foi tomada como uma medida necessária para preservar a empresa, especialmente devido a atrasos na entrega de equipamentos importados durante a pandemia, afetando a instalação dos pivôs de irrigação.
A pandemia não apenas desorganizou a logística do comércio global, mas também resultou em casos de COVID-19 entre os operários, levando à interdição ocasional dos alojamentos e, consequentemente, ao adiamento das operações. A empresa, que emprega 180 pessoas em Britânia (GO), a 330 quilômetros de Goiânia, é o segundo maior empregador da cidade.
Adotando práticas de agricultura regenerativa, a Elisa Agro cultiva algodão, feijão, milho e principalmente soja em áreas de pastagem degradada. No entanto, a queda nos preços desses produtos, após atingirem picos históricos em meados de 2022, contribuiu para a difícil situação financeira da empresa. O exemplo da soja, que teve sua saca negociada a R$ 200 dois anos atrás, agora está em torno de R$ 120, sem uma queda proporcional nos custos.
A empresa investiu cerca de meio bilhão de reais na instalação de sua estrutura operacional, obtendo parte desse valor por meio da emissão de CRAs. A recuperação judicial busca corrigir a estrutura de capital da Elisa Agro, que, segundo o principal executivo, estava equivocada, mesmo sendo uma empresa envolvida em agricultura regenerativa, geração de crédito de carbono e projetos sociais.
Paralelamente ao processo de recuperação, os controladores da empresa estão avaliando ofertas para a venda de seu controle. A família que detém a Elisa Agro também controla a Mitre, incorporadora especializada em imóveis de alto padrão em São Paulo. A venda de parte do capital da Mitre foi realizada como parte dos ajustes necessários na estrutura de capital da Elisa Agro, contribuindo para a segregação completa dos dois negócios. O processo de reestruturação conta com a consultoria especializada da Alvarez & Marsal, enquanto a One Partners auxilia na identificação de potenciais compradores.