A Traive, uma agfintech que se especializa em conectar fundos de investimento com grupos de distribuição de insumos agrícolas, tem uma visão cautelosa sobre a concessão de crédito ao agronegócio neste ano. Fabricio Pezente, cofundador e CEO da empresa, aponta que a combinação de aumento da inadimplência no campo, taxas de juros elevadas e quebras de safra criaram uma “tempestade perfeita” para retração dos investidores.
Segundo Pezente, “este ano terá uma forte redução no volume financiado pelo mercado financeiro ao agro e 2025 ainda é uma grande interrogação.” Com o mercado de capitais em estado de cautela, a demanda de crédito pelas revendas que financiam os produtores deve crescer, porém de forma mais conservadora.
Concessão de Crédito ao Agronegócio: Desafios Atuais
Nos últimos anos, o agronegócio tem enfrentado uma série de desafios que afetam o fluxo de crédito. Dentre eles, destacam-se:
- Aumento da inadimplência: As dificuldades econômicas e climáticas têm levado muitos produtores a atrasarem ou deixarem de pagar suas dívidas.
- Juros altos: As taxas de juros elevadas tornam o custo do crédito mais oneroso para os produtores.
- Quebra de safra: Problemas climáticos e outras adversidades têm afetado a produção, resultando em menores colheitas e menores receitas para os produtores.
Esses fatores têm levado investidores a reconsiderarem suas apostas no setor, resultando em um menor volume de crédito disponível.
Investimentos e Expansão da Traive: Planos para o Futuro
Apesar das adversidades, a Traive mantém sua estratégia de investir em grandes revendas de insumos e cooperativas. A meta é atingir cem grupos até o final do ano, partindo dos atuais sessenta. Além disso, a empresa planeja lançar um marketplace de crédito em outubro, visando conectar ainda mais o mercado financeiro à cadeia agro.
Como a Traive Planeja Conquistar Novos Mercados?
Após iniciar operações no México, a Traive está de olho na Colômbia, Chile e Argentina. A expansão para esses países mostra a ambição da empresa em diversificar e solidificar sua presença na América Latina. Embora novas rodadas de investimento estejam no radar, não são foco imediato, segundo Pezente. O aporte mais recente, de US$ 20 milhões, foi liderado pelo Banco do Brasil.
Oportunidades em Meio à Tempestade
Mesmo com os desafios, há oportunidades surgindo. Por exemplo, a NetZero está investindo cerca de R$ 50 milhões na construção de duas novas fábricas para produção de biochar a partir da palha de café. Este produto é altamente valorizado como condicionador de solo. As novas unidades em Minas Gerais inicaram operações progressivamente entre finais de 2024 e início de 2025, dobrando a capacidade de produção anual para 18 mil toneladas.
O Papel do Governo no Setor Agropecuário
Guilherme Campos, novo auxiliar do ministro Carlos Fávaro na Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, argumenta que o governo deve propor políticas consistentes de produção para as principais culturas agrícolas do país. Ele acredita que o Brasil, como grande balizador do mercado exportador, tem a responsabilidade de criar diretrizes para o futuro da produção agropecuária nacional.
Além de definir políticas, Campos enfatiza a importância do diálogo com a bancada do agronegócio e diversos entes do setor, visando construir pontes e fortalecer as relações com o Congresso, produtores e consumidores.
Em resumo, o cenário do crédito ao agronegócio em 2024 apresenta desafios significativos, mas também oportunidades. Empresas como a Traive e NetZero estão buscando soluções inovadoras e estratégias de expansão para mitigar os impactos e aproveitar as oportunidades que surgem em meio às adversidades.