A pressão negativa sobre os preços do boi gordo tem trazido incertezas ao setor pecuário brasileiro. Em recente evento, o novo presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), Victor Miranda, destacou o cenário de queda nos valores e atribui a queda a diversos fatores.
“Não tem argumento para a carne estar tão baixa para quem produz, isso traz reflexões necessárias”, afirmou Miranda durante a cerimônia. Gerando incômodo no setor, as afirmações do presidente acusam os frigoríficos e intermediários de exagerar na queda dos preços.
Quais movimentos do mercado impactam o preço do boi gordo?
Para entender a situação, vale mencionar que, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o valor da arroba no estado de São Paulo iniciou o mês de julho, cotado em R$ 259,05 e, chegou a cair para R$ 244,70 no dia (5/7).
Essa situação representa uma redução de 1,1% só na primeira quinzena do mês. Além disso, o preço da arroba está menor que a média registrada em julho de 2022, que estava acima de R$ 320.
O Instituto de Economia Agropecuária do Mato Grosso (Imea) também salientou em relatório que o diferencial de preço em relação a São Paulo se intensificou em comparação a junho. No período de 10 a 14 de julho, a arroba do boi gordo oscilou entre R$ 213 e R$ 214.
Como o preço do boi gordo afeta o consumidor e as exportações?
O preço baixo do boi gordo tem reflexos que vão além do produtor. Segundo Miranda, os preços pagos ao produtor caíram tanto que a redução não foi sentida pelo consumidor na mesma proporção. A queda da carne no varejo foi de apenas 15%, criando uma situação de desiquilíbrio no mercado. “O consumo está freado porque o preço não baixou na gôndola do supermercado. Os preços estão muito baixos para quem produz”, afirmou Miranda.
No cenário de exportações, os preços baixos afetam diretamente os resultados. Segundo dados do governo federal, a cotação média de exportação de carne bovina entre janeiro e junho de 2023 foi de US$ 4,6 mil por tonelada. No mesmo período do ano anterior, o valor médio era de US$ 5,7 mil por tonelada.
Como a queda nos preços afeta a pecuária?
A baixa nos preços leva os pecuaristas a abater mais fêmeas, pressionando ainda mais o mercado. Esse movimento pode levar a uma redução na oferta de bezerros e, consequentemente, de boi gordo destinado ao abate, o que poderá acarretar uma reversão de ciclo.
Victor Miranda acredita que “quando voltar o bezerro, vai encarecer e, naturalmente, vai encarecer o boi gordo. Isso não é bom. Tem que haver um equilíbrio. Isso vai refletir lá na frente, porque vai faltar bezerro. Faltando bezerro, vai faltar boi gordo”, conclui.