A espaçonave Voyager 2 da NASA, durante seu sobrevoo na década de 1980, capturou imagens cativantes dos planetas Urano e Netuno. Uma das curiosidades que intrigavam os astrônomos era a diferença de cores entre esses dois planetas. Apesar das semelhanças em suas massas, tamanhos e composições atmosféricas, o pálido tom de ciano de Urano contrapunha com o azul brilhante de Netuno.
Agora, essa questão parece estar próxima de ser esclarecida graças ao trabalho de uma equipe de astrônomos cujo estudo foi publicado na revista científica JGR Planets em 23 de maio de 2023. O mistério sobre a diferença de coloração, uma busca inicial por novas informações sobre as nuvens e neblinas dos planetas de gelo, pode ter sido finalmente desvendado.
Como foi realizada a pesquisa?
Os cientistas utilizaram três recursos para efetivar essa descoberta: o Telescópio Espacial Hubble, o Infrared Telescope Facility e o Gemini North, localizado no Havaí. Tendo ao seu alcance a observação dos planetas em comprimentos de onda ultravioleta, visível e infravermelho próximo, o time de pesquisadores conseguiu desenvolver um modelo atmosférico único para Urano e Netuno.
As conclusões indicam que o excesso de neblina em Urano, acumulado em sua atmosfera, o faz parecer mais claro que Netuno. O modelo também sugere a existência de uma camada de neblina que ao escurecer origina as manchas escuras nos planetas, como a Grande Mancha Escura em Netuno, observada pela espaçonave Voyager 2 em 1989.
Importância e resultados da pesquisa
A camada atmosférica que influencia as cores, intitulada como camada intermediária, se mostra mais espessa em Urano do que em Netuno. Se ambos os planetas não possuíssem tanta neblina em suas atmosferas, provavelmente ambos teriam o mesmo ton de azul.
Em Urano e Netuno, o gelo de metano se condensa nas partículas da camada intermediária, o que resulta em uma espécie de chuva de neve. No entanto, Netuno possui uma atmosfera mais ativa e turbulenta, o que o torna mais eficiente em agitar o metano e produzir essa neve, causando a remoção de mais neblina e mantendo sua camada mais fina do que a de Urano.
O professor Patrick Irwin, da Universidade de Oxford e o principal autor do estudo, destaca a importância desse modelo inovador. “Este é o primeiro modelo a ajustar simultaneamente observações da luz solar refletida de comprimentos de onda ultravioleta a infravermelho próximo”, afirmou. A descoberta auxilia, também, a compreensão das manchas escuras ocasionalmente visíveis nos astros.
No final das contas, o estudo inicialmente designado para entender somente as nuvens e neblinas dos planetas de gelo acabou explicando a diferença de cores entre Urano e Netuno, como afirmou Mike Wong, um dos membros do time de pesquisa – “Explicar a diferença de cor entre Urano e Netuno foi um bônus inesperado!”.