A imprevisibilidade do clima lança sombras sobre a perspectiva da safra de café 2024/25, cuja colheita está programada para iniciar em maio. A região do Cerrado Mineiro, uma destacada produtora de café arábica no Brasil, enfrenta altas temperaturas desde novembro, gerando apreensão entre os produtores. Alertas de chuvas moderadas a partir de janeiro oferecem alguma esperança, especialmente para a necessária fase de desenvolvimento dos cafeeiros.
A aguardada precipitação é crucial para evitar a queda dos “chumbinhos” do cafeeiro, permitindo que se desenvolvam plenamente até a colheita. Juliano Tarabal, presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, destaca a importância das chuvas planejadas para janeiro e fevereiro, destacando que a falta delas pode resultar em uma redução significativa na produtividade da safra de café na região. No ciclo anterior, a produção fechou entre 6,5 milhões e 7 milhões de sacas de 60 quilos.
Entretanto, as ondas de calor persistentes desde novembro tornam o cenário para 2024 complexo. As temperaturas elevadas e as chuvas irregulares têm causado estresse nas plantas, interferindo na fisiologia vegetal e resultando na queda dos chumbinhos, indicando uma potencial diminuição na produção. Diante desse quadro, a única certeza é a expectativa de que a produção da nova safra no Cerrado Mineiro fique abaixo de 5 milhões de sacas.
A preocupação com o clima se estende a outras regiões cafeicultoras importantes, como a Alta Mogiana em São Paulo, o sul da Bahia e o Espírito Santo, onde os cafeicultores enfrentam desafios semelhantes de altas temperaturas e possíveis perdas de produtividade nas lavouras de conilon. Especialistas do mercado de café estão atentos a esses fatores climáticos, que têm impacto direto nas bolsas de Nova York e Londres, impulsionando a valorização dos preços do arábica e robusta.
Guilherme Morya, analista do Rabobank, destaca a conjuntura que impulsionou a recente valorização dos preços nas bolsas, mencionando estoques limitados em Nova York, a entressafra na Colômbia e Honduras, e os gargalos logísticos no Brasil. O comportamento do mercado reflete os desafios climáticos no desenvolvimento vegetativo do café no país.
Diante desse panorama, a indústria do café está atenta à volatilidade das cotações, que, segundo Pavel Cardoso, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Café (Abic), pode impactar os preços ao consumidor. A incerteza quanto à oferta pode resultar em um repasse nos preços finais entre janeiro e fevereiro, refletindo a complexidade do cenário climático e suas implicações na cadeia produtiva do café.