As chuvas intensas que assolaram o Rio Grande do Sul entre o final de abril e o início de maio de 2024 afetaram 478 dos 497 municípios do Estado, segundo dados da Defesa Civil. As perdas variaram em intensidade e nas regiões mais afetadas, como os vales do Taquari e do Caí, o Vale do Rio Pardo, a Quarta Colônia da Imigração Italiana e o Vale do Paranhana e Encosta da Serra, a situação foi ainda mais drástica.
Os setores da pecuária gaúcha enfrentam agora demandas urgentes por recursos para a reconstrução de estruturas danificadas, reposição de equipamentos e animais perdidos, e até mesmo anistia de dívidas contraídas anteriormente. A dificuldade na recuperação de pastagens e a qualidade do solo são desafios adicionais para a retomada da produção.
Quais são os principais impactos das chuvas na produção pecuária gaúcha?
As enchentes deixaram um saldo negativo significativo na produção de leite e carne no Rio Grande do Sul. Segundo a Emater, o setor de pecuária leiteira perdeu 2.451 cabeças de gado leiteiro e 9.625.918 milhões de litros de leite. Esses números refletem não só a morte de animais, mas também a deterioração das instalações e a logística comprometida para a ordenha e transporte do leite.
Produção de Leite e Pecuaristas Desistentes
Marcos Tang, presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), aponta que a principal dificuldade pós-enchente é a recuperação das pastagens. A perda da safrinha e a necessidade de ressemeadura comprometem a alimentação dos animais e, consequentemente, a produção de leite.
Segundo Tang, muitos pecuaristas pediram empréstimos para comprar geradores e retomar as atividades de ordenha. Contudo, as ajudas financeiras precisam ser desburocratizadas e liberadas com urgência para que os pecuaristas possam continuar suas atividades sem mais prejuízos.
- Perda de 2.451 cabeças de gado leiteiro
- Impacto na safrinha e pastagens
- Necessidade de auxílio financeiro desburocratizado
Recuperação de Solo e Alimentação dos Animais
Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat/RS), reforça a importância de liberar o Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite do Rio Grande do Sul (Fundoleite) para ajudar na recuperação das pastagens e alimentação dos animais. Ele destaca que ações de recuperação de solo são essenciais, mas demandam tempo, podendo levar mais de um ano para serem plenamente eficazes.
Palharini também menciona que a produção de alimentos para os animais está aos poucos sendo retomada. A importação de alimentos de fora do Estado, com recursos destinados para doações aos produtores, pode ser uma solução temporária para reduzir custos e aumentar a competitividade.
Desafios na Bovinocultura de Corte e Suinocultura
Ivan Faria, vice-presidente do Instituto Desenvolve Pecuária, relata que a bovinocultura de corte gaúcha foi gravemente afetada, com a destruição de pastagens de inverno e bancos de sementes. Atualmente, apenas 15% da carne consumida no Estado é produzida localmente; o restante é importado de fora.
No setor suinícola, a perda foi pontual, mas significativa. De acordo com Valdecir Folador, presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), cerca de 14.800 suínos foram perdidos. Ele destaca a necessidade de atenção especial para suinocultores que perderam infraestrutura e têm dificuldade financeira.
- Destruição de pastagens de inverno
- Importação de carne de outros estados
- Perda de cerca de 14.800 suínos
- Necessidade de auxílio para suinocultores endividados
Desafios da Avicultura com as Enchentes e Doença de Newcastle
José Eduardo dos Santos, presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), calcula os prejuízos em R$ 247 milhões devido às enchentes. Além disso, um foco de Doença de Newcastle em uma granja do Vale do Taquari pode reduzir as exportações de carne de frango em cerca de 2% a 3% neste ano.
Santos afirma que a avicultura gaúcha está em um processo de reerguimento, mas enfrenta desafios financeiros e burocráticos para acessar recursos de reestruturação. O setor mostra resiliência, mas ainda há um caminho significativo pela frente.
Nesse contexto, a continuação do apoio governamental e a liberação de fundos específicos são cruciais para que o agronegócio do Rio Grande do Sul possa retomar suas atividades de forma sustentável e eficiente, minimizando os impactos negativos das enchentes no setor pecuário.