Quando falamos sobre tráfico humano, muitas vezes encaramos com um distanciamento alarmante, vendo apenas números e estatísticas frias. No entanto, o tráfico humano tem rostos, nomes e, sobretudo, histórias de vida dramáticas. Hoje, iremos compartilhar a história de Nadege Ilick, uma jovem camaronesa que conseguiu sobreviver e reconstruir sua vida em Portugal.
Helena Pina-Vaz, uma portuguesa que trabalha numa instituição de ensino em Braga, recebeu Nadege em casa e ajudou-a a recompor-se. Nas palavras de Helena: “O que é que eu posso fazer melhor do meu tempo? É muito indigno que nós estejamos a ver isto acontecendo. E isto acontece à mão dos seres humanos. E nós não podemos permitir isto. Eu não faço só para ajudar. Faço as coisas como protesto pelo mal que eu vejo acontecer, que não pode ser”.
Como Nadege reconstruiu sua vida em Portugal?
Lidando bravamente com as cicatrizes emocionais e físicas decorrentes do tráfico humano, Nadege iniciou a reconstrução de sua vida em Portugal. Quatro anos depois de sua chegada, ela conseguiu trabalho e está morando em Braga. O mais emocionante, porém, é que ela conseguiu reunir-se com os três filhos que tinha deixado em Camarões.
Sobre a criticas que Nadege por vezes enfrenta, Helena retruca: “Muitas pessoas criticam e dizem que a Nadege deve estar com uma casa de Segurança Social, deve estar com subsídios. Não. Ela trabalha desde que chegou cá, ela tem a sua própria casa que ela paga, está agora a contribuir para a construção da sua própria casa. É, portanto, uma pessoa que vive com toda a dignidade, que paga seus impostos, que contribui para a sociedade”.
Por que é importante partilhar histórias como a de Nadege Ilick?
A realidade do tráfico humano é uma verdade cruel que precisa ser trazida à luz. Ao partilhar histórias como a de Nadege, não apenas despertamos a empatia e a compreensão, mas também alimentamos o desejo de mudar esses cenários desumanos. E, acima de tudo, ampliamos as vozes das vítimas que muitas vezes permanecem silenciosas.
Prova disso é o fato de Nadege ser o rosto da XVII edição do Presépio ao Vivo de Priscos encontrando uma maneira de trazer consciência sobre o tráfico humano no contexto de Portugal. Nadege conclui: “Disseram-me que Portugal é um país pequeno, que é muito acolhedor… prefiro ir para onde as pessoas me vejam como sou, em vez de ganhar mais dinheiro”.