Impactos da viagem espacial na saúde: O que sabemos até agora
Viajar ao espaço sempre despertou o interesse e a imaginação das pessoas. Porém, uma das perguntas mais relevantes atualmente é: até que ponto viajar ao espaço pode ser prejudicial à saúde? E essa questão não é crucial apenas para astronautas, mas também para a crescente indústria de turismo espacial.
A partir das observações recolhidas durante o primeiro voo orbital totalmente civil, em 2021, pesquisadores de uma centena de instituições prepararam o estudo mais detalhado até o momento sobre os efeitos do espaço na saúde. A análise mostra que o corpo humano passa por várias mudanças quando chega ao espaço, mas a maioria retorna ao normal meses após voltar à Terra. Isso acontece porque o corpo é submetido a uma enorme carga de estresse, desde a exposição à radiação até a ausência de gravidade.
Quais são os efeitos do espaço na saúde dos viajantes?
Os cientistas já sabem há décadas que os voos espaciais podem causar problemas de saúde, como perda óssea, problemas cardíacos, de visão e renais. No entanto, até o momento, menos de 700 pessoas viajaram ao espaço, o que torna o tamanho da amostra pequena e dificulta a generalização dos resultados. Além disso, os governos muitas vezes relutam em divulgar todas as descobertas.
Mas os quatro turistas americanos que passaram três dias no espaço durante a missão Inspiration4 tiveram seus primeiros dados divulgados na revista Nature em 11 de janeiro de 2024. Esses resultados foram comparados com os de outros 64 astronautas, e os pesquisadores descobriram mudanças notáveis em diversos indicadores de saúde.
Quais são as principais alterações no corpo durante um voo espacial?
Quando as pessoas estão no espaço, passam por mudanças no sangue, coração, pele, proteínas, rins, genes, mitocôndrias, telômeros, citocinas e outros indicadores. No entanto, cerca de 95% desses indicadores retornaram ao nível anterior três meses depois.
- Mudanças no sangue
- Alterações no coração
- Variações na pele
- Modificações nas proteínas e rins
- Alterações genéticas e mitocondriais
Quais são as implicações para futuras missões espaciais?
A principal conclusão é que a maioria das pessoas se recupera rapidamente após um voo espacial, segundo Christopher Mason, da Weill Cornell Medicine, um dos principais autores do estudo. A missão Inspiration4, financiada pelo bilionário Jared Isaacman, teve como objetivo demonstrar que o espaço é acessível a pessoas comuns, sem anos de preparação intensa.
Hayley Arceneaux, uma das integrantes da missão, disse ter orgulho de sua “cicatriz espacial”, resultado de uma biópsia feita para exames médicos. Um dos estudos revelou que os telômeros — as extremidades dos cromossomos — dos quatro turistas espaciais se alongaram consideravelmente no espaço, mas voltaram ao tamanho original após alguns meses na Terra.
Mudanças nos telômeros e implicações para o envelhecimento
Como os telômeros se alongam à medida que envelhecemos, encontrar uma forma de controlar essas mudanças poderia levar à criação de novos produtos para retardar o envelhecimento, segundo Susan Bailey, da Universidade do Colorado. Essa descoberta é promissora, mas ainda exige mais pesquisas.
É seguro viajar para Marte?
Com base nos dados recolhidos, “não há razão para que não possamos ir e voltar a Marte em segurança”, disse Mason. No entanto, ele ressaltou que a viagem provavelmente não será frequente devido às altas taxas de radiação. Estudos em ratos expostos à radiação equivalente a 2,5 anos no espaço mostraram danos renais permanentes. “Se não desenvolvermos novas formas de proteger os rins, um astronauta pode necessitar de diálise ao retornar”, afirmou Keith Siew, do London Tubular Centre.
Em resumo, embora a viagem espacial seja cheia de desafios e riscos, as pesquisas atuais são encorajadoras, sugerindo que com avanços científicos, as jornadas para além da Terra se tornarão cada vez mais seguras e acessíveis.