O avanço do uso de forrageiras no Brasil tem despertado a atenção dos produtores para os benefícios dessas plantas no sistema de produção. Para além da proteção do solo e do fornecimento de palha para o plantio direto, as forrageiras desempenham um papel crucial na elevação da produtividade agrícola, gerando impactos positivos na rentabilidade das fazendas. Neste contexto, é fundamental compreender quando e como utilizar as forrageiras de maneira eficiente.
As forrageiras, sejam gramíneas ou leguminosas, são plantas destinadas a proteger o solo, oferecer palha para o plantio direto e fornecer alimento para o consumo animal, podendo ser utilizadas tanto para pastagem quanto para a produção de alimentos como feno e silagem. Entender o impacto dessas culturas de cobertura nos sistemas de produção requer uma análise cuidadosa, especialmente considerando as diferentes condições climáticas do país.
A agricultura brasileira ocorre predominantemente em dois climas: tropical e subtropical. O clima subtropical, presente na região Sul e em parte de São Paulo, caracteriza-se por verões quentes e invernos mais frios, com chuvas distribuídas ao longo do ano. Por outro lado, o clima tropical, predominante na maior parte do país, apresenta verões quentes e chuvosos e invernos secos, com pouca variação de temperatura.
No cenário tropical, a utilização do solo para a agricultura enfrenta desafios, como a falta de água em determinadas épocas do ano, inviabilizando lavouras de sequeiro, e chuvas torrenciais concentradas em determinadas estações. A cobertura do solo torna-se crucial para enfrentar esses desafios, sendo, no entanto, um desafio por si só devido à rápida decomposição da palha em climas tropicais.
A palha, fundamental para proteger o solo contra a erosão causada por chuvas intensas, é rapidamente decomposta pelos microrganismos do solo durante a estação das águas, deixando o solo desprotegido para a nova safra. No entanto, manter o solo coberto é essencial para preservar a água retida, reduzir a erosão e melhorar as características físicas do solo.
A cobertura com palha proporciona um ambiente favorável para o desenvolvimento das raízes das plantas, prevenindo a compactação do solo. Além disso, a presença da palha no solo contribui para a retenção de nutrientes, otimizando o aproveitamento do adubo aplicado e evitando perdas por enxurrada.
Para tornar o uso de forrageiras economicamente viável, duas abordagens são comuns: semeá-las na segunda safra (em climas tropicais) ou na safra de inverno (em regiões subtropicais), garantindo a cobertura do solo no início das chuvas; ou realizar consórcios com culturas como milho, sorgo, arroz e soja, permitindo a coexistência de duas culturas no mesmo local durante parte de seus ciclos de vida.
O consórcio, embora possa parecer desafiador à primeira vista, revela-se uma estratégia eficaz, com a sobressemeadura das forrageiras no final do ciclo de culturas como a soja, proporcionando a emergência das forrageiras antes da colheita e aproveitando as chuvas finais da safra. Em regiões propícias para uma segunda safra de milho ou sorgo, o consórcio também é viável.
A escolha das forrageiras adequadas ao sistema de produção é crucial, e as braquiárias se destacam como as principais no Brasil, devido à sua adaptabilidade ao clima tropical e ao cerrado. Espécies como B. ruziziensis, B. brizantha, B. humidicola e B. decumbens são exemplos relevantes. Outras opções como aveia forrageira e feijão guandu também desempenham papéis importantes, oferecendo resistência ao frio, produção de massa verde e versatilidade para a produção de palha.
A semeadura das forrageiras pode ser realizada em linha, na caixa de adubo, ou a lanço, no mesmo momento da semeadura de culturas como milho ou sorgo. A eficácia do consórcio é evidenciada pela mínima diferença, e muitas vezes inexistência, na produtividade entre culturas solteiras e consorciadas.