Em um cenário onde a estrutura moral da sociedade é questionada, ecoa ainda forte o sermão do teólogo C.S. Lewis, que em 1946 já alertava para esse colapso em seu texto “A Christmas Sermon for Pagans” (Um Sermão de Natal para Pagãos). Publicado pela revista britânica Strand, o material ganhou os holofotes novamente neste ano de 2023, sendo repercutido por diversos veículos, como a Fox News e o Christian Headlines.
No sermão, Lewis divide a humanidade em três tipos de pessoas: aqueles que estão doentes e não sabem disso, identificados por ele como pós-cristão; aqueles que estão doentes e sabem disso, os pagãos; e aqueles que encontraram a cura, os cristãos. Essa dissecção reflete a maneira como Lewis interpretava a sociedade moral de sua época com impressionante similaridade aos problemas atuais.
O Sermão de Natal ainda é relevante em 2023?
A percepção de Lewis acerca da moral na sociedade contemporânea colocou em destaque a importância da existência de um código moral absoluto. Ele argumenta que, se não houver uma definição objetiva de certo ou errado, as ‘ideologias’ ou sistemas morais criados por diferentes raças ou classes não têm como ser comparados. Segundo Lewis, sem um padrão objetivo, escolher entre uma ideologia e outra torna-se uma questão de gosto arbitrário.
Essa visão foi especialmente sensível no contexto pós-Segunda Guerra Mundial, no qual o mundo debatia a superioridade dos ideais democráticos sobre os nazistas, uma luta aparentemente inútil se não houver hierarquização de valores. De forma surpreendente, o sermão ressoa forte neste ano de 2023, ao ecoar questões complexas que ainda são debatidas na guerra cultural que vem fervilhando em diversos países. Isso reforça a relevância das reflexões propostas por Lewis e a característica profética de seu discurso.
Qual a mensagem de esperança de Lewis?
Apesar de trazer à tona questões complexas e reflexões profundas sobre o estado da moralidade na sociedade, o sermão de C.S. Lewis não deixa de lado a esperança. Ele finaliza o texto com uma bela mensagem para os não-cristãos na audiência, aludindo à celebração universal do dia 25 de dezembro, uma prática “muito pagã”, segundo ele, mesmo em países como o Japão e a Rússia.
Essa celebração, ele argumenta, é a confirmação das esperanças mais antigas da humanidade, a história que não morre. Assim, fica o convite para todos, independentemente de sua fé, para se juntarem em celebração e reflexão, abrindo uma possibilidade de retomada do caminho à Terra e à grande família humana.