Sociólogos da Universidade de Bordeaux e do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS), Charles Mercier e Philippe Portier, emergiram com um estudo impactante sobre a relação dos jovens na França com a religião. O estudo, conduzido pelo instituto Kantar Public, envolveu uma amostra significativa de 1.000 jovens entre 18 e 30 anos, buscando compreender as tendências da espiritualidade na era global em que vivemos.
As descobertas foram surpreendentes. A vasta maioria dos jovens no país raramente assistem a um serviço religioso. O estudo destacou que mais da metade (52%) declarou não ser adepta de nenhuma religião, enquanto 38% se identificaram como seguidores de alguma fé, sejam elas católicos romanos, protestantes, ortodoxos ou muçulmanos. Apesar dessa descrença aparente na religião organizada, 43% dos pesquisados ainda afirmaram acreditar em Deus, um número notavelmente alto.
Qual é a relevância da religião na vida dos jovens franceses?
No entanto, a crença em Deus não se traduz necessariamente em importância da religião em suas vidas. A pesquisa mostrou que 63% dos jovens consideram que a religião tem pouca ou nenhuma importância em suas vidas pessoais. No outro espectro, uma minoria significativa (31%) considera a religião relevante em suas vidas, sendo os jovens muçulmanos os mais propensos a atribuírem importância à religião.
Como os jovens franceses entendem a laicidade?
Parte significativa do estudo foi dedicada a analisar a compreensão dos jovens sobre a laicidade. Interessantemente, 89% afirmaram entender o conceito de laicidade, ainda que com diferentes interpretações. Para 29% dos consultados, a laicidade corresponde à ideia de tratar todas as religiões em pé de igualdade; para 27%, significa garantia de liberdade de crença; 22% a interpretam como a separação de religião e estado; e 15% a entendem como uma força para reduzir a influência religiosa na sociedade.
A pesquisa também revelou que 68% dos entrevistados acreditam que a laicidade deve evoluir na França, mas há discordâncias quanto à direção em que essa evolução deve ocorrer. Alguns defendem mais tolerância com relação às expressões religiosas, enquanto outros defendem uma postura mais rígida. Há ainda aqueles que clamam por uma maior separação entre as instituições públicas e o estado.
Por fim, no que se refere à exibição de símbolos religiosos em locais públicos, a população jovem se mostrou mais inclusiva do que os mais velhos. Cerca de 45% apoiam o uso de símbolos religiosos visíveis, como véus ou cruzes, em empresas, enquanto 24% se opõem. Nesse aspecto, Philippe Portier destaca que “apenas 20% da população têm a mesma tolerância que os jovens nessa área”. Essa pesquisa seguramente abre novas perspectivas para o estudo das práticas e crenças religiosas na França contemporânea, em meio a um contexto globalizado e em constante transformação.