Esta pesquisadora revelou a explicação da religião pela ciência; qual é a verdade?

Ann Taves, uma renomada pesquisadora da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara (EUA), dedica-se há décadas ao estudo de experiências não ordinárias, fenômenos frequentemente classificados como místicos ou religiosos. 

Esses eventos incluem visões, presenças e possessões. Taves iniciou sua jornada intrigada por pensamentos intrusivos e a falta de controle sobre o próprio raciocínio.

Essas experiências, embora chamadas de não ordinárias, são bastante comuns, especialmente em contextos religiosos. Por exemplo, a possessão é um fenômeno presente em algumas vertentes do cristianismo evangélico, assim como em tradições de matriz africana. 

A questão que se coloca é como estudar esses eventos de maneira científica, dado que historicamente as ciências humanas e naturais têm métodos bastante distintos. Ann Taves advoga por uma abordagem interdisciplinar para aprofundar a compreensão desses fenômenos.

Por que os fenômenos religiosos devem ser entendidos?

Há mais de 30 anos, Ann Taves estuda essas experiências, sejam elas religiosas, místicas ou até patológicas. Segundo ela, o propósito é determinar a frequência dessas ocorrências, em que contextos elas se tornam problemáticas e quando podem ter efeitos positivos. 

Ela explica que o objetivo é não apenas entender a prevalência dessas experiências, mas também suas diferentes percepções em contextos culturais variados.

Em tradições cristãs, por exemplo, a possessão é frequentemente vista como um evento negativo e estressante. Já nas religiões de matriz afro-brasileira, tais situações são muitas vezes interpretadas como contato espiritual, um meio de buscar orientação e autoconhecimento. Essas divergências mostram como experiências não ordinárias são essenciais para a coesão e a prática de fé das comunidades.

Como estudar fenômenos religiosos de forma eficaz?

A abordagem tradicional nas ciências humanas é estudar essas experiências qualitativamente, considerando a linguagem e o contexto histórico. 

Enquanto isso, as ciências naturais tendem a generalizar esses eventos e frequentemente os consideram patológicos. Taves defende a integração desses métodos, para que se possa compreender melhor os aspectos comuns e as particularidades culturais que determinam se uma experiência é vista como positiva, negativa ou patológica.

Ann Taves enfatiza que a combinação desses métodos pode oferecer uma visão mais abrangente e respeitosa. Entender quais características são compartilhadas entre culturas e quais são únicas a cada uma pode ajudar a normalizar essas experiências e a esclarecer sua influência na evolução social e cultural da humanidade.

O que podemos aprender com experiências não ordinárias?

A pesquisadora se interessa por esses fenômenos por serem extremamente comuns, apesar de divergirem em interpretação de um grupo para outro. Muitas pessoas relatam sonhos, visões e presenças inexplicáveis, mas a maneira como cada cultura encara esses eventos pode variar significativamente. 

Compreender isso através de uma lente científica e cultural pode ajudar a normalizar tais experiências e a entender melhor seu papel na evolução humana.

Estigmas associados a alguns desses fenômenos, como os efeitos dos psicodélicos, tradicionalmente ligados a contextos religiosos, têm inibido sua exploração científica. Hoje, no entanto, o estudo dos psicodélicos é visto como promissor, revelando seus potenciais benefícios terapêuticos. Taves acredita que investigar como esses efeitos se interligam com o contexto cultural pode ajudar a desvendar novos tratamentos e intervenções.

Uma das expectativas de Taves é a oportunidade de colaborar com pesquisadores brasileiros. O Brasil, com sua rica diversidade de religiões e contextos culturais, oferece um cenário único para estudos sobre experiências não ordinárias. 

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